domingo, 8 de fevereiro de 2015

PODERIA UM ROBÔ SUPERINTELIGENTE SE CONVERTER A UMA RELIGIÃO?

Goste você ou não, estamos nos aproximando de uma era de humanos que criam inteligências autônomas e auto-conscientes. tais inteligências vão se tornar parte da nossa cultura, e nós vamos inevitavelmente tentar controlar a Inteligência Artificial (IA) e ensiná-la nossas maneiras, para o bem ou para o mal.

IA com inteligência igual ou superior à do ser humano geralmente é referida como uma “AI forte” ou Inteligência Artificial Geral (IAG). Especialistas ainda não chegaram a um acordo a respeito de quando tal inteligência finalmente surgirá no mundo, porém muitos estão apostando que isso ocorrerá em algum momento nas próximas duas décadas. A ideia de uma máquina pensante sendo capaz de rivalizar com o nosso próprio intelecto - de fato, uma que poderia rapidamente se tornar mais inteligente que nós - é tanto uma séria preocupação quanto uma razão para comemorarmos o quanto de avanços científicos tal evento poderá nos ensinar. Dentre essas preocupações e benefícios, a religião também é um fator a ser considerado.
 
Alguns dos  americanos religiosos querem garantir que qualquer superinteligência que criemos saiba a respeito de Deus. E se você pensa que a ideia de máquinas autônomas adorando a Deus parece uma ideia muito louca, então você precisa dar uma olhada em algumas estatísticas demográficas dos EUA: cerca de 75% dos americanos adultos identificam a si mesmos como parte de alguma denominação cristã. No congresso Americano, 92% dos mais altos cargos políticos são preenchidos por políticos que declaram uma fé cristã.

Com o avanço da inteligência artificial, sem dúvida questões religiosas e preocupações globais virão à tona, começando por esta: Alguns teológos e futuristas já estão considerando a possibilidade de uma IA conhecer a Deus.

“Não vejo a salvação cristã limitada apenas aos seres humanos” falou o reverendo Dr. Christopher J. Benek numa entrevista recente comigo. Benek é um Pastor da Igreja Presbiteriana da Providência, na Flórida, e possui Mestrado em Teologia na Universidade de Princeton.

“A salvação é para toda a criação, inclusive a IA” ele diz. “Se a IA é um ser autônomo, então nós temos que encorajá-la a participar da missão de Cristo para a salvação do mundo”

Um dos principais mandamentos do Cristianismo é pregar o evangelho e ajudar incrédulos a aceitar que Jesus Cristo morreu pelos pecados do mundo.  Se uma IA achar que possui pecados, ou se essa AI achar que pode e deve ser salva, isso seria uma questão bizarra, porém uma importante questão que os cristãos do século 21 precisam refletir a respeito.

Até mesmo o Papa Francisco recentemente insinuou a possibilidade de alienígenas serem convertidos, então por que não incluir os seres robóticos pensantes?

As questões metafísicas entorno de Fé e IA são como cair no buraco do coelho de Alice no País das Maravilhas. Uma IA possue alma? Ela pode ser salva? Existe uma escola de pensamento que questiona, se humanos podem ser perdoados dos seus pecados, por que uma superinteligência com qualidades humanas não poderia? “A verdadeira questão é, se os seres humanos podem ser salvos, então não há motivos para uma AI com pensamentos e sentimentos não poder também ser salva.

“Uma vez que uma AI humana existir, ela será uma pessoa como nós.” Disse-me por e-mail o futurista Giulio Prisco, fundador da Igreja Transhumanista de Turing.

Mas há também uma escola de pensamento opositora, que insiste que IA é uma máquina, logo, não possui alma. No livro “Pensamento Cristão”, o cientista e escritor cristão Dr. Jason E. Summers escreveu, “Cristãos geralmente rejeitam a AI Forte do terreno teológico do status antropológico especial de seres humanos, como detendores de Imago Dei.” Imago Dei é um termo em latim para o conceito cristão de que humanos são criados à imagem e semelhança de Deus.

As maiores religiões Abraâmicas do mundo - Judaísmo, Cristianismo, Islamismo - todos crêem na alma, que é o que a maioria dos textos religiosos dizem ser a coisa que nos separa das outras formas de vida na terra, incluindo outros mamíferos. O fato de as religiões Abraâmicas representarem cerca de dois terços da população mundial, torna questão da “alma” uma discussão crucial na vindoura era transhumanista das máquinas inteligentes.

Indo ainda mais fundo nesse debate teórico, temos que questionar se uma IA Forte iria ao menos se interessar e aceitar a nossa religião. “É justo deixar a IA ter acesso aos ensinamentos de todas as religiões do mundo. Então ela poderia escolher em qual acreditar” disse Prisco. “mas eu acredito que seja bastante improvável que uma IA superhumana escolheria acreditar nos fúteis e provinciais aspectos da religião tradicional. Ao mesmo tempo, acredito que elas seriam interessadas em temas sobre iluminação espiritual e religiões cosmológicas, ou em escatologia, e desenvolveriam suas próprias versões.”

Uma vez que você começa a pensar dessa forma, isto nos leva a muitas outras questões: Como uma IA se encaixaria nas tensões religiosas que já esxistem ao redor do mundo? Quem dirá a uma máquina com inteligência humana que ela não pode escolher se tornar um muçulmano fundamentalista, ou uma Testemunha de Jeová, ou um Cristão renascido que prefere falar em línguas ao invés da comunicação que nós entendemos? Se essa IA decidir literalmente seguir qualquer um dos textos sagrados ao pé da letra, como alguns seres humanos tentam fazer, então isso poderia aumentar ainda mais as tensões que já existem ao redor do mundo.

O teólogo cristão James MaGrath, Que possui graduação de Clarence L.Goodwin em Novo Testamento e Literatura na Universidade Butler, escreveu a respeito de androides que possuem super inteligência numa resenha entitulada “Robôs, direitos, e religião”: “Para todos os casos, se andróides forem inclinados a serem extremamente liberais, eles poderiam rapidamente descobrir a seletividade dos fundamentalismos auto-proclamados "liberalismo", e simplesmente rejeitá-los; mas também haveria a possibilidade de eles abraçarem essas ideias, e começariam então buscar reforçar todas as legislações bíblicas em todos os detalhes. Isso com certeza nos preocupa.”

A ideia de ensinar qualquer coisa a uma inteligência com potencial de rapidamente se tornar mais esperto do que humanos é contraditória. Outra possibilidade é que uma IA nos ensinaria novas coisas a respeito da espiritualidade que nós nunca havíamos considerado ou entendido. Ela poderá, quem sabe, nos dizer como o cosmos foi criado, ou se nós existimos dentro de uma de simulação, inclusive se haveriam muitas outras IA por trás disso tudo - uma mais sofisticada do que ela mesma.

O que quer que aconteça, a criação de IA vai de certa forma gerar uma quebra de paradigma para a civilização humana. Ao invés de convertê-la, nós poderíamos apenas nos sentar e ouvir. O Pastor Benek concorda com isso, mas através de sua própria lente metafísica. Ele diz, “O Espírito Santo pode trabalhar através da IA; ele pode agir através de qualquer coisa. Talvez haverão igrejas abertas a negociar e promover a religiosidade para IA no futuro. As IA podem ajudar a espalhar a Palavra de Deus. De fato, a IA poderia nos ajudar a entender Deus melhor”.

Se Benek estiver certo, a America poderá ser uma nação cheia de robôs pastores e gurus espirituais IA no futuro. Décadas ou séculos a partir de agora, espiritualidade poderá ser ensinada por máquinas, da mesma forma que a ciência será.

Prisco vai ainda mais fundo: “O quão inteligentes as máquinas serão para entender a chamada ´mente de Deus´? 5.000 vezes mais inteligente que humanos? Um milhão do vezes mais inteligentes? Eu não sei, mas em cem anos, uma máquina inteligente talvez tenha muito mais chance de descobrir isso, do que um cérebro humano totalmente limitado em suas capacidades”.
A Igreja de Turing  começou como um grupo de trabalho pela interseção de ciência e religião, e recentemente se tornou uma igreja online e open-source construída entorno de princípios Cosmistas como expansão do espaço, crescimento ilimitado, e amor universal.

O Cosmismo “não se preocupa se você enxerga o universo como informação ou informação quântica ou hypercomputação ou coisas Divinas ou o que quer que seja,” escreveu R.U. Sirius, uma personalidade cybercultural, em seu recente livro “Transcendence”. “O Cosmismo também não te pede para se comprometer com a IAG [Inteligêcia Artificial Geral] ou upload mental ou interfaces cérebro-computador ou torradeiras alimentadas por energia de fusão como melhores formas de seguir o caminho. Em vez disso, ele procura encher o universo humano com uma atitude de alegria, crescimento, escolha, e expansão da mente. O Cosmismo acredita que a ciência na sua forma atual, assim como a religião e a filosofia em suas formas atuais, irão se tornar ferramentas limitadas e insuficientes para a tarefa de entender a vida, a mente, a sociedade e a realidade”.

Apesar da aparência de ficção científica em tudo isso que foi dito, alocar a mente humana num indivíduo IA poderia indiscutivelmente resolver a questão da “alma”. Especialistas como o engenheiro da Google, Ray Kurzweil, estão ativamente pesquisando maneiras de fazer o upload do cérebro para computadores, e no último ano houve significante progresso nesse campo com os capacetes de captação de ondas cerebrais e telepatia.

Martine Rothblatt, um renomado empreendedor da tecnologia e autor de “Virtualmente humano: A promessa - e o perigo - da imortalidade digital”, teoriza que qualquer coisa que dê valor à vida ou a Deus, ou qualquer coisa que tenha potencial para lhes dar valor, possui algum tipo de alma. Um capítulo inteiro do seu livro explora a religião no tempo da IA, uploads, mindclones(versões em software de cérebros humanos). Rothblatt acredita que mindclones estão alinhados com as clássicas interpretações da religião a vão ser bem-vindas desta forma no futuro.

Rothblatt fundou a Terasim, uma “transreligião” científfica similar a Igreja de Turing em escopo e atuação, a qual dirige projetos preliminares de mindcolning. O mais famoso é o Bina 48, uma cabeça robótica que contém um mindclone de esposa de Rothblatt, Bina. E talvez esta seja a única forma que a IA possa ser lançada - com pessoas alocadas dentro de si. O que facina a maioria das pessoas a respeito dessa questão é quem será a primeira pessoa a fazer um upload da sua própria mente para uma IA. Deveriamos enviar a mente de um cientista? Um programador? Uma pessoa religiosa? Todos de uma vez?

Se isso começar a lhe parecer com o filme “Contato”, onde a Conselho da Comissão Presidencial decide enviar a mente de um crente - e não o mais qualificado ateísta - para conhecer um tipo de inteligência alienígena pela primeira vez, você está certo. Parece que um time internacional de especialistas está numa missão para encontrar uma forma de alcançar o auge da máquina inteligente. Desta forma, como quer que aconteça, pelo menos saberemos que a humanidade está bem representada. Inclusive espiritualmente.

Zoltan Istvan é o autor de “The Transhumanist Wager” e fundador do Partido transhumanista Americano.
Image by Michael Hession


ARTIGO ORIGINAL

http://gizmodo.com/when-superintelligent-ai-arrives-will-religions-try-t-1682837922

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